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A cidade do porto teve sempre uma importante relevância a nível político e social para o país, e como cidade essencialmente virada para o comércio marítimo, o rio exerceu sempre um papel fundamental no desenvolvimento da mesma.
Situada no coração do Porto, a praça da ribeira é umas das mais antigas da cidade e situa-se no centro da actividade comercial desenvolvida à volta do rio. Torna-se assim natural que a sua concepção tivesse desde sempre muita importância no plano urbanístico do porto, visível nos escritos dos séculos XIV e XVI, época em que se desenvolve a construção naval através de vários estaleiros, onde se declara, por ordem do Rei, que todo o pescado fosse aí descarregado.
Impulsionada pelo comércio dos vinhos do alto douro, a cidade do porto viveu na segunda metade do século XVIII uma época de grandes progressos económicos, o que propiciou uma aumento demográfico juntamente com o aumento da sua área. Nesta altura urgia resolver dois grandes problemas centrais. Tratava-se de dar dignidade e monumentalidade à praça da ribeira, centro comercial da urbe, e de melhorar as comunicações entre esse centro e a zona alta da cidade. De forma a responder aos problemas referidos, João Almada e Melo idealizou um arrojado projecto para renovar urbanisticamente esta típica zona ribeirinha e foi também ordenada pela junta a reconstrução da velha praça da ribeira e a abertura da rua S. João, que ligaria à parte alta da cidade. Esta nova artéria assentará em arcaria sobre o leito terminal do rio Vila. Estando a ribeira ligada ao amplo largo de S. Domingos pela rua S. João, a comunicação seguia depois pela rua das flores, o mais importante eixo comercial da cidade, com as suas lojas de fazendas, mercearias, ourives, porcelanas, etc. O projecto de reconstrução da praça da ribeira, 1780-84, procura dar-lhe um aspecto rectangular e aberto, tornando-a numa praça rodeada de uma soberba arcaria de cantaria. No lado sul, até então simples pano irregular de muralha, estavam projectadas construções em arcada abertas interiormente mas tapadas pela mesma, à excepção do último arco onde se situava a porta da Ribeira, para dar acesso ao cais e à ponte das barcas que desembocava ali perto. Também as fachadas viradas a nascente e poente teriam construção em arcadas, estando a praça aberta apenas a norte pelas ruas de S. João e dos Mercadores.
Os arcos tinham funções comerciais e passagem superior funcionava como passeio ou viaduto, mediante o qual se acede às habitações situadas em cima do muro, que servia como uma grande varada da cidade virada sobre o rio. No centro da praça seria construído um chafariz enquadrado arquitectónicamente com os edifícios existentes. Contudo o derrube da muralha em 1821 modificou completamente a praça, perdendo a referida varanda sobre o rio, sendo ladeada por construções sem qualquer articulação de conjunto, recebendo a configuração hoje presente.
A transformação da praça implicou a remodelação do cais da ribeira, que se mostrava insuficiente para o movimento e procura que tinha. Em consequência, João Almada e Melo juntamente com os demais membros da junta das obras públicas construíram um novo cais de desembarque desde o penedo dos guindais até ao ancoradouro tradicional. Juntamente à intervenção urbanística nesta zona da cidade surge uma nova concepção de cidade, que defende a abertura, a luz, a higiene, a racionalização do espaço físico e social da cidade, destacando-se John Whitehead, amigo pessoal de João Almada e Melo.
Ao longo do século XIX o porto continua a viver ao ritmo da actividade mercantil. Centro vital de fluxos de mercadorias e de gente de todo o norte, a cidade é o grande entreposto, placa giratória entre a região e o mundo atlântico. É sobretudo no negócio do vinho do porto que, desde o século XVIII, se funda o seu puder regional e o seu crescimento. O exclusivo da barra do douro para a exportação dos vinhos do porto, a proibição de exportar quaisquer vinhos por outros portos do norte, a concessão à companhia, o monopólio da venda de vinhas na cidade e nos portos do Brasil reforçam o domínio do porto sobre a região bem como a importância desta zona para a cidade. Contudo, no fim do século XIX começa-se a notar o ciclo vicioso da bloqueada economia portuense muito devido à abertura dos portos brasileiros ao comércio Britânico e ao aumento da entrada de manufacturas inglesas no reino. Esta situação reflecte-se nas actividades produtivas afectando seriamente as transacções portuguesas com a sua colónia. O principal sector da actividade económica portuense vive tempos difíceis. Aliado a todas estas contrariedades estava o aumento da importância via-férrea. A construção de linhas por toda a Europa alimentava a indústria têxtil daí proveniente, retirando cada vez mais importância ao cais da ribeira que foi sendo encarada cada vez mais como um ícone para a cidade pela sua importância histórica, conservando apenas ai um pequeno mercado.Hoje em dia, a ribeira é um ponto de passagem obrigatório para qualquer visita turística e ponto de partida dos city-tours. Aí convivem duas realidades distintas, por um lado podemos contemplar um espaço classificado como património da humanidade pela Unesco, sentir a história marcada em todas as pedras. Por outro lado, a vida que se desenrola em vielas apertadas e sombrias pelas pessoas que ainda conservam em si a essência a cidade medieval, através da linguagem tão própria que se torna tão essencial à sobrevivência desta zona da cidade.