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Nos finais dos anos 50 e início dos anos 60, na América do Norte, tem início um processo de renovação urbana de frentes de água, associado a um novo contexto económico: a desindustrialização do denominado período “pós- fordismo”, a alteração das rotas oceânicas mundiais, e alterações específicas no transporte naval, resultantes da normalização do transporte de contentores e do recurso a navios de maior dimensão e profundidade, tornando obsoletas as docas interiores, menos profundas ou mais antigas.
Durante este período, alguns factores conduziram a uma alteração na atitude para com as frentes de água. A alteração tecnológica após a II Guerra Mundial, incluindo as alterações nas zonas portuárias e na indústria. ; Os movimentos de «environmental clean up»; A preservação étnica e o retorno à cidade;  A assistência Federal (nos Estados Unidos);  A emergência da sociedade do lazer e do turismo; A realização de pequenas operações pioneiras de frentes de água.
Operações como a renovação urbana do Inner Harbour, em Baltimore, com base no plano de 1964, como as sucessivas operações de renovação em Boston, começando nos anos 60 com a Downtown Waterfront, ou como o Harbourfront Project, com início nos anos 70, em Toronto, são os casos de estudo mais referenciados em publicações, representando uma primeira geração de operações de frentes de água.
Nos anos 70 este processo estende-se à Europa através da operação de renovação urbana das Liverpool Docoklands, tendo continuidade no início dos anos 80 com a operação paradigma da London Docklands Development Corporation (LDDC), a primeira de várias operações de reconversão dos extensos terrenos libertados pela indústria naval da Londres, que abandonara a cidade durante os anos 60 devido às alterações no transporte naval e a decisão das grandes companhias e estivadores de terminarem a sua actividades nas Docklands e transferirem-na para Tilbury.
Em várias realidades, as operações de renovação de frentes de água resultam de um contexto urbanístico mais alargado, no qual se inclui um processo de transformação de infra-estruturas fundamentais, por vezes administradas por entidades que não a cidade.
O processo atrás descrito de transformação da actividade portuária, a partir dos anos 60, a conhecida necessidade de renovação periódica das infra-estruturas ferroviárias ou as estratégias militares contemporâneas, ligadas às novas tecnologias, induziram dinâmicas específicas de transformação territorial e espacial em entidades autónomas como as administrações portuárias, as autoridades militares ou as companhias ferroviárias, estas últimas em alguns casos coordenadas com uma administração metropolitana de transportes.
Embora não possa ser directamente relacionada com a transformação dessas infra-estruturas, numa perspectiva de causa-efeito, a renovação de frentes de água não pode ser entendida de forma separada desse contexto, o qual não só a enquadra como também a condiciona.

 

Barcelona

A renovação de frentes de água apresenta um outro enquadramento alargado de infra-estrutura que, apesar de por vezes exceder também a área abrangida pelas operações, não pode ser analisado em separado ou de forma desligada: a construção de sistemas de acessibilidades, realizada por motivo das operações ou que apenas é possível devido ao contexto específico de disponibilidade de corredores com continuidade urbana.
A Ronda Litoral de Barcelona, sendo uma pretensão antiga da cidade que previa fechar o seu sistema viário de circunvalação, é realizada apenas quando da operação dos Jogos Olímpicos de 1992; tratando-se de uma via estruturante paralela à costa, foi objecto de desenho especial por se integrar na operação olímpica, de modo a não se tornar numa barreira entre a cidade e o mar.
Convém também referir que a construção da Ronda Litoral foi possível devido à disponibilidade dos terrenos litorais em extensão longitudinal, livres desde o rio Besos até ao bairro de Barceloneta, caso contrário teria de adoptar uma solução bastante mais dispendiosa, em túnel mais profundo ou sobre o mar.

 

Lisboa

Uma área importante da cidade de Lisboa sofreu um grande processo de revitalização foi a da Expo 98.
A operação de renovação constituiu, em Lisboa, um laboratório experimental para testar novas tipologias de galerias técnicas de infra-estruturas, na perspectiva da sua reprodução futura em outras zonas da cidade.
A despoluição do rio Trancão através da construção de um sistema de saneamento de efluentes industriais, sendo uma operação paralela, é obviamente coordenada e despoletada pela renovação urbana da zona oriental de Lisboa, representando uma outra tipologia de infra-estrutura de saneamento cuja realização é enquadrada com as operações de renovação urbana de frentes de água.
A nova linha de metropolitano, em Lisboa, realizada para viabilizar a renovação urbana da área da Expo98, não era à partida uma prioridade para a cidade – a sua extensão para poente seria certamente mais urgente –, e a construção de uma estação central para a cidade não tinha necessariamente que ser realizada na zona oriental da cidade – Joan Busquets, por exemplo, entende que a infra-estrutura construída no Parque das Nações não é uma estação central, uma vez que é periférica, existindo uma outra estação mais central, terminal, não funcionando também, até hoje, como efectivo nó multimodal de transportes.
A construção dessa linha em detrimento de outras ou o investimento especial na Estação do Oriente só podem ser entendidos pela sua integração na operação da Expo98, justificando o seu tratamento singular, com expressão até no seu projecto arquitectónico.